Com um perfeccionismo típico de virginiana, Juliana Rabelo mergulha o pincel na aquarela e o convida para dançar ao som de lindos pássaros pintados num papel texturizado. Suas linhas precisas e manchas aguadas imprimem sentimentos coloridos em forma de flores, pétalas, folhas, pássaros, notas musicais, balões, borboletas e pessoas de olhos vivos e nariz rosado.
A sua arte mais conhecida é a pintura. Juliana é uma das melhores desenhistas e aquarelistas do Brasil e tem um número enorme de seguidores nas redes sociais. O que pouca gente sabe é que ela também toca violão, canta muito bem, borda lindamente, tem planos de aprender violino e chama seu sorriso mais espontâneo de “gaitada”.
Segundo ela mesma, “cozinha mediocremente (dizem que isto está mudando desde que ela decidiu morar só há pouco mais de um ano), tenta cuidar de plantinhas e de seus dois gatinhos: Kitty & Félix. Acredita na justiça cósmica e na força dos sonhos. Está em eterno processo de autoconhecimento, tem os melhores amigos do mundo e um milhão de dúvidas não resolvidas.”
Vamos conversar com esta artista, professora de aquarela e Bacharel em Design de Moda que dedica a vida a embelezar o mundo com combinações de cores repletas de delicadezas.
Você diz em seu site que está buscando o autoconhecimento. Hoje você saberia responder quem é a Juliana Rabelo?
Essa é uma pergunta sempre muito difícil de responder, pela timidez e pela incerteza das palavras, mas penso que ela seja uma pessoa muito sensível e muito curiosa sobre si, sobre as coisas do coração e do mundo.
A sua trajetória passou por uma faculdade de Design de Moda e você resolveu não seguir carreira. O que você aprendeu com esta experiência?
A maior parte do que aprendi sobre desenho e pintura, além das experiências profissionais, são heranças da Universidade. A UFC também abriu minha cabeça para o fato de que existe bastante pesquisa por trás da temática Ilustração, e foi ali que descobri que sim, era possível viver daquilo que mais amo fazer. Mas de todas as coisas, a mais importante que eu aprendi foi que tudo bem mudar de idéia no meio do caminho, pegar uma estrada diferente, se é ela que vai te levar pra onde os teus sonhos estão.
Como o desenho e a aquarela entraram na sua vida?
Como a maior parte dos artistas, eu tive contato com o desenho e a pintura desde criança – gostava de copiar os personagens de desenho animado que via na TV e devorava aquelas revistinhas de colorir. Ao longo dos anos, fui arriscando criar minhas próprias personagens e colorir seus próprios universos. A aquarela apareceu um pouco mais tarde – em meados de 2012, minha então orientadora na UFC me apresentou os lápis de cor aquareláveis e eu fiquei completamente apaixonada. Desde esse dia, nunca mais parei de estudar e praticar!
O seu trabalho é muito onírico, cheio de símbolos belos como flores, balões coloridos, pássaros… quais são suas referências e inspirações?
Eu sou apaixonada pelo trabalho de mulheres incríveis como Clarissa Paiva, Miss Led, Nanda Correa e Malena Flores, e também do Chris Sanders. Das coisas que me inspiram, a maior parte são situações do cotidiano, pequenos momentos felizes com pessoas queridas; além disso, a música, os insights sobre a vida e os sentimentos que a gente carrega por dentro.
Como o meio influencia o seu trabalho? Você é uma pessoa que vive Fortaleza, ocupa vários espaços da cidade. Você sente que isso se reflete no que você faz? Nas cores ou nos temas?
Definitivamente sim – eu passei dois meses em São Paulo para um curso, em 2014, e lembro muito bem de como passei a perceber e valorizar as cores (e o sol!) de Fortaleza quando retornei, e isso passou a se refletir muito na minha produção. Algumas das minhas ilustrações mais recentes têm sido inspiradas por situações que vivi aqui – na praia, no barzinho, nas festinhas, no meio da rua. Além disso, são vinte e cinco anos de Fortaleza, ela é testemunha de todos esses momentos que eu registro no papel, é praticamente indissociável.
Ferreira Gullar uma vez disse que “a arte existe porque a vida não basta”. Você concorda? Que espaço as outras formas de arte que você exercita tem na sua vida?
Sim! Eu percebo a arte como uma linguagem que a gente usa pra falar aquilo que as palavras não conseguem, pra chegar no outro, pra se pôr pra fora de alguma maneira, e isso tudo acaba se (te) eternizando no mundo. Além das ilustrações, eu canto e toco violão (mediocremente) e, por sorte minha, convivo com muitos amigos do ramo da música, então esse universo onde eu contemplo, admiro, aprendo muito e às vezes participo ativamente é muito presente na minha vida.
Você é uma das professoras de aquarela mais requisitadas da cidade. Por que você decidiu dar aulas? Que significado isso tem para você?
Quando tive a oportunidade de ser bolsista de iniciação a docência, ainda na Universidade, eu acabei me apaixonando pela possibilidade de dividir o que eu sabia. Eu vejo a arte como uma ferramenta muito poderosa de expressão e autoconhecimento, e poder ser uma ponte entre essa ferramenta e outras pessoas, ser esse “empurrãozinho”, e ver as outras pessoas também conseguindo se expressar e evoluírem suas técnicas, surpreendendo a si mesmas e se empoderando disso, é extremamente gratificante.
Na sua eterna busca, no seu caminho, você se sente satisfeita como artista? O que você deseja alcançar?
Acho que pela consciência de que é uma caminhada muito longa e (acho que) infinita, me sinto satisfeita no lugar onde eu estou nesse momento. Ainda busco melhor qualidade técnica nos meus desenhos, aprimoramento nas pinturas, solidificar melhor meu estilo e encontrar um propósito maior para tudo isso.
Para terminar, como você se vê daqui há 5 anos?
O ano é 2022, e se eu continuar tendo sorte na vida, vou continuar conseguindo falar das coisas que eu penso, sei e sinto com minhas aulas e ilustrações. Espero que de forma melhor que em 2017! 🙂
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