Quando pensamos na arte enquanto profissionais desta e nos dedicamos tal qual, o pagamento – o valor do suor e do estudo e do tempo gasto para isso – se torna uma necessidade natural. No entanto, muitas vezes a procura ou expectativa desse pagamento nos distancia do nosso objetivo em fazer arte.
É comum ver o artista como um ser solitário, preso num instante de inspiração, numa busca enorme pela obra: pelo produto – para que esse possa ser visto, reconhecido, respeitado e validado, por vezes, é medido por seu valor financeiro.
Mas arte é mais que isso. Arte pode ser algo completamente inestimável, porque arte não é (só) o resultado, mas a experiência de fazê-la. Mais que isso, é importante lembrar que quando a obra artística atinge outro ela deixa de ser uma experiência só do artista pra ser algo assimilado e reinterpretado pelo público, tornando-se, assim, algo coletivo.
Ora, e não pode ser ela uma obra coletiva desde sua concepção, passando por sua feitura até sua apreciação? Não poderia ser a arte, na verdade, não o produto de algo, mas a vivência de muitos, juntos por um objetivo em comum, trocando conhecimentos, culturas, pensamentos e ideias para criar algo que é um amálgama de tudo isso e será apreciado por outros, mas que, principalmente, os uniu ali?
Nesses tempos em que vozes podem ser silenciadas, pessoas invisibilizadas, guilhotinas afiadas, acreditamos que poderia a arte ser mais que um produto a ser apreciado na sala como identificação de um status econômico, mas a aproximação de várias vozes, mentes e sentimentos vivendo a experiência de se conectar e compartilhar suas vidas umas com as outras e com o mundo. A arte pode ser mais que apreciação, ela pode ser reconhecimento e familiariadade, comunicação, humildade, compaixão e fraternidade.
O produto da arte é perecível. Ele pode ser destruído pelo tempo, consumido pelo fogo, levado pelo vento, inundado pelas chuvas – mas a experiência de sua concepção é eterna, é profunda, é universal e humana, porque a arte serve aos sentimentos e ao reconhecimento de nós mesmos e dos outros.
Assim, repetindo as palavras de Neil Gaiman e que nos serve de mote em muitas situações: (Hoje, mais do que nunca) Façamos boa arte (juntos).