É muito importante quando fazemos arte por nós mesmos – fazer por si é encontrar um pouco de si, um tipo de filosofia que reforçamos em vários momentos em nosso blog – mas… fazer pelos outros é ruim? Não mesmo, e pode ser mais engrandecedor e formador do que imaginamos.
Estamos acostumados a ver o trabalho de arte como “à parte”, “alienígena”, um hobby, um passatempo. Ele é respeitado quando está em pedestais nas galerias ou atravessando diferentes mídias ou alavancando vendas. Por sua vez, e independente disso, o trabalho de arte sempre é apreciado – e isso acontece porque arte é necessário ao ser humano: não importa em que nível, grau ou quantidade, todos somos de alguma maneira tocados pela arte e consumidores dela. Pinturas em paredes de cavernas, representações em pedra ou madeira, catedrais e templos, adornos em nossas roupas, desenhos em nosso corpo… a arte acompanha a história do homo sapiens tanto quanto a necessidade de comer ou a busca por um espaço para viver – e com funções bem específicas: a arte manifesta nossa identidade como pessoas únicas, mas também como povo, como coletivo.
O artista produz pra si, mas também para o outros, para sua comunidade. No entanto, costumamos dar o foco dessa produção ao artista: na convivência dele com seu mundo pessoal, sua ostra de produção, enquanto ele não se distancia tanto assim de outros: porque ele faz parte de um grupo e serve de alguma forma a este.
Em outros tempos e culturas, artistas eram essenciais – menestreis, bardos, bobos, pintores ou artesãos não pertenciam a castas retiradas da sociedade, em palcos exclusivos, mas viviam inseridos nessas comunidades, como ativos importantes delas, com funções que iam além do entreter, mas representar, marcar e significar, criando pontes entre as pessoas, ouvindo-as, reinterpretando suas palavras, criando diálogos com suas artes que extrapolavam a corriqueira apreciação: chamavam ao reconhecimento, encontravam vozes mudas e davam-lhes formas, levando os diálogos dos almoços e das tavernas para o lado de fora e ultrapassavam fronteiras, ganhavam espaços.
A humildade do artista está em reconhecer o quão nobre é sua profissão, mesmo quando o mundo não percebe. Como um monarca de cargo vitalício, ele vê além do que muitos veem, expressa o que muitos sentem, e por sua arte une todos os de seu círculo – bem como, tal qual o mesmo monarca, ele deve entender que é servidor de seu povo, por mais que sua arte também seja sua vida e que o primeiro engajamento que deve ter é consigo mesmo.
A arte é um presente. É para o artista que, através dela, encontra-se, e é para quem é tocado por ela, pois por ela, reconhece-se.
Texto de Luís Carlos Sousa.