A Arte em Todas as Coisas

novembro 19, 2019


Scott McCloud, em seu livro Desvendando os Quadrinhos, define arte de uma forma muito ampla (e simples): “qualquer atividade humana que não se desenvolve a partir dos dois instintos básicos da nossa espécie: sobrevivência e reprodução”. Questionável de muitas formas – principalmente aos que contestam o quão espiritualmente “boa” deve ser a arte, o quanto esta pode ou deve estar ligada a sentimentos, sensações e intenções engrandecedoras – mas, ainda assim, reveladora.

Apoiando-se no argumento de McCloud – e desconsiderando temporariamente toda a complexidade das relações humanas -, se pararmos pra pensar, a arte é nosso fundamento enquanto seres sociais. Pois não nos cabe fazer somente a linha direta e objetiva de “sobrevivência e reprodução”. Queremos mais, desejamos mais, buscamos mais: tentamos nos expressar em nossas ações e emoções, percorremos as possibilidades no ínterim entre o belo e o grotesco para nos encontrar e agirmos de forma única, de forma artística.

Qualquer ação humana possui a assinatura da “artista” que a executou, seja ela realmente reconhecida pelo termo ou não. Desde as coisas grandiosas, como os detalhes dos salitres dos prédios, às cores das salas de cinema, à apresentação da refeição na hamburgueria favorita, até aqueles detalhes quase despercebidos de nossa rotina: o sorriso de bom dia da pessoa amada, as cócegas na barriga da criança, o afago carinhoso no bichinho de estimação, a troca de olhares silenciosa durante a dança, o beijinho-cheirinho cearense no encontro dos queridos… desejos de arte não reconhecidos, amorosamente escolhidos pelo coração que palpita, pelo calor que une, pelos gestos que aproximam.

Talvez, de forma ousada, devemos ressignificar a definição de McCloud: “qualquer atividade humana é arte”.

Texto de Luís Carlos Sousa

Publicado por Daniel Brandão

O Estúdio Daniel Brandão produz quadrinhos, ilustrações, criações de personagens e mascotes. Aqui também são oferecidos cursos de Desenho, HQ, Desenho Avançado e Mangá, além de aulas particulares.

Feriado dia 15 de Novembro

novembro 14, 2019


Olá, artistas!

#AVISO

Amanhã, dia 15 de novembro, o Estúdio Daniel Brandão estará #FECHADO! Ou seja, não teremos aula do curso de desenho para crianças e nem ilustração digital!

Aproveitem o dia para descansar e desenhar bem muito!

Mas, sábado, dia 16, teremos aulas normais! Sendo assim, os cursos de #quadrinhos, #mangá e #desenho funcionarão normalmente!

Publicado por Daniel Brandão

O Estúdio Daniel Brandão produz quadrinhos, ilustrações, criações de personagens e mascotes. Aqui também são oferecidos cursos de Desenho, HQ, Desenho Avançado e Mangá, além de aulas particulares.

O Bastante

novembro 12, 2019


Quanto tempo é o bastante para a arte ser considerada um trabalho? Para que o tempo que você gasta refazendo páginas e páginas de HQ ou os anos de estudo de teoria do design para melhor compor sua ilustração ou as várias noites de sábado em barzinhos inserindo suas próprias composições entre um ou outro cover da Marisa Monte ou as quase duas mil páginas de rascunhos de roteiros ou crônicas ou contos sejam consideradas a sua forma de viver, o seu ganha-pão?

A medida de tempo o bastante é… a utilidade.

Uma forma de arte é considerada trabalho no momento em que se torna útil: quando paga contas, quando gera empregos, quando mobiliza a sociedade. Ela é trabalho o bastante quando deixa de ser algo que se faz por prazer e se torna algo que cumpre requisitos, que fecha boletos, que garante status.

Mas seria isso mesmo?

À quadrinista, a arte se torna útil para ela quando a HQ traduz sentimentos de sua própria história. Ao ilustrador, ressignificar sua periferia em seu design arrojado que traduz suas raízes é ser útil. A música da cantora do barzinho encontra utilidade naquele instante em que conecta os enamorados que passaram a noite inteira se entreolhando. Ao escritor, em seu cárcere político, as ideias metamorfoseadas em mitos se tornam úteis à revolução social que se configura além de suas barras.

Todx artista sabe: a arte é útil por si, além de ganhos ou deméritos, pois salva aqueles que a fazem e aqueles que são tocados por ela.

A Arte é o bastante.

Texto de Luís Carlos Sousa

Publicado por Daniel Brandão

O Estúdio Daniel Brandão produz quadrinhos, ilustrações, criações de personagens e mascotes. Aqui também são oferecidos cursos de Desenho, HQ, Desenho Avançado e Mangá, além de aulas particulares.

Um Papo Sobre Editais

novembro 05, 2019


A palavra “edital” costuma ser vista, principalmente pela comunidade artística, como um símbolo de ansiedade e um verdadeiro entrave para a produção de arte em si. Minha intenção neste breve texto é tentar desmistificar isso (em 3 simples razões), trazendo uma visão mais social e política da importância dos editais e convidando os artistas que seguem essa newsletter (e mesmo outros além) a superarem um pouco a fobia de burocracia e apresentarem seus projetos às Secretarias e Instituições que os oferecem.

1. O dinheiro do edital é nosso: ao pagarmos impostos, o governo pega o montante recebido e reverte à sociedade em forma de segurança, saúde, educação, infraestrutura, mobilidade e… cultura! Dessa forma, o edital se torna um instrumento de convite à sociedade para se utilizar desses valores. Por vezes, eles abrem vagas em serviços (como os editais para cargos públicos) e em outros, principalmente ligados às artes, eles abrem para projetos – pois há uma compreensão (não irreal) de que a arte é contextualizada e focada no multiculturalismo geográfico (pense em quantos bairros há em Fortaleza, na quantidade diversa de vozes e culturas formando esse município, isso se multiplica quando pensamos em unidades da federação ou mesmo em nossa região) – assim, produtores culturais apresentam projetos que reforcem a identidade de suas comunidades e sirvam às mesmas, alimentando a cena de arte e tornando conhecidos quem são essas personas e como elas lidam com as mídias características de suas geografias e grupos;

2. A burocracia é bem menor do que se imagina: com o advento da lei da desburocratização, os complicados métodos para se entrar em um edital reduziram consideravelmente. Um exemplo em especial é o caso da Secult-CE, em que (quase) todo o processo é feito virtualmente antes, durante e depois. Além disso, a equipe envolvida costuma ser tão engajada com a cultura quanto os proponentes e entendem as complicações do cenário de arte em suas localidades. Caso a burocracia ainda seja um problema, hoje em dia existem muitas pessoas que trabalham como agentes culturais e cuidam de toda a papelada, além de instruírem bem quem quer se dedicar a um projeto.

3. Fazer arte é resistência: é inegável os tempos sombrios e incertos que vivemos. Criar arte em momentos assim é um ato de resistência, porque a arte impacta, cativa, “historifica”, marca e multiplica. Arte nos une e nos faz reconhecer, inspira e motiva. Assim, se utilizar de instrumentos que servem ao desenvolvimento, disseminação e aproximação da arte para com a sociedade deve ser feito, motivado e, principalmente, utilizado como voz para muitos.

Porque, no fim das contas a arte pode ser isso: um diapasão dos sentimentos e sensações de sua sociedade.

Texto de Luís Carlos Sousa.

Publicado por Daniel Brandão

O Estúdio Daniel Brandão produz quadrinhos, ilustrações, criações de personagens e mascotes. Aqui também são oferecidos cursos de Desenho, HQ, Desenho Avançado e Mangá, além de aulas particulares.

A Penosa Disputa

outubro 30, 2019


Os irmãos são cobertos pela nuvem de pó de magnésio, dando um ar idílico e mágico em torno deles. Os dois saltam nas barras, rodopiam no vazio, agarram-se e giram nas cordas, arremessando a si mesmos no ar. Pirueta e pouso. Ambos são aplaudidos, mas somente um se sente feliz pelo feito. O outro, por sua vez, percebe seus erros, revolta-se pelo acerto do irmão e não consegue ouvir os aplausos para si. A simples felicidade de seu fraterno oponente lhe é símbolo de derrota pessoal, imprecisão, incapacidade e falta de talento. Eles treinaram toda a vida juntos, tiveram as mesmas dietas, as mesmas rotinas, mas, por alguma razão, o primeiro irmão é melhor que o segundo – numa ordem construída pela frustração – e este, cada vez que percebe isso, se cobra mais, se exige mais, vai além dos próprios limites e só consegue perceber suas falhas. Para ele, o esporte deixou de ser um prazer para se tornar uma disputa, um esforço, um martírio.

Nós vivemos em disputas. Somos treinados a nos espelhar e compararmos uns com os outros, atentando para a vitória alheia como um conjunto de regras de um caminho bem pavimentado que refletem um “sucesso”, um “troféu”, não uma jornada. Quando não atingimos semelhantes objetivos, nossa frustração define culpados, cria demônios e nos coloca numa estrada com metas inatingíveis e fugazes.

No entanto, parece injusto nos impor exigências baseadas em outros. Nossas vidas e histórias são únicas, nossos tempos – aqueles além dos ponteiros e das medições matemáticas – seguem em seus próprios termos, falando através das “vozes” do corpo quando sentimos necessidade ou prazer por algo. Tomar a atenção para aquilo que o outro faz ou para o ponto que atinge é tapar os ouvidos pra si próprio, não ouvindo o que se precisa para se sentir bem e/ou como chegar a isso.

Há grandes disputas nas artes. Num perigoso e cruel jogo de vencedores e perdedores. Mas a arte não reconhece disputas. Ela não é uma arena de objetivos, mas uma escola de autoconhecimento. Ela não tem necessidades pois a arte é, assim como são todas as coisas naturais, tal qual as árvores de uma floresta ou os peixes de um rio: funcionando de suas próprias formas e nos seus próprios tempos para dar integridade a todo o sistema.

Aos que criam disputas, vendo-se correndo na direção dos “grandes” que inspiram: deem um tempo para si e olhem para suas próprias jornadas. Reconheçam e amem seus aprendizados. Sejam gratxs a eles. E se aceitem. Acima de todas as prerrogativas e “troféus”, todos somos artistas, pois todos temos a oportunidade de perceber e descobrir o melhor em nós mesmos.

Texto de Luís Carlos Sousa.

Publicado por Daniel Brandão

O Estúdio Daniel Brandão produz quadrinhos, ilustrações, criações de personagens e mascotes. Aqui também são oferecidos cursos de Desenho, HQ, Desenho Avançado e Mangá, além de aulas particulares.

Inscreva-se para receber atualizações no seu e-mail

Estúdio Daniel Brandão

Av. Santos Dumont, 3131A, sala 817, Torre Comercial do Del Paseo, Aldeota.
Fortaleza – CE . CEP: 60150 - 162
Fixo: (85) 3264.0051 | Celular (WhatsApp): (85) 99277.9244
estudiodanielbrandao@gmail.com

Estúdio Daniel Brandão • todos os direitos reservados © 2024 • powered by WordPress • Desenvolvido por Iunique Studio