Will Eisner, em seu livro de entrevista, Shop Talk, fala brevemente sobre sua teoria de que é possível se reconhecer de onde veio determinado artista somente pelo seu traço. Quando levamos esse pensamento para os comics americanos, que absorvem artistas do mundo todo, parece uma afirmação um tanto quanto imprecisa, tendo em vista que o mercado (em teoria) se pauta bastante no “estilo” e na proximidade que o desenho se mantém com tal estrutura. No entanto, muitos editores e pessoas do meio percebem quando um artista não é americano, por mais que se utilize de elementos que demarcam bem os comics ou mesmo que repliquem outro artista considerado demarcador de uma época.
A identidade artística passa por uma compreensão do “eu” que também envolve o reconhecimento de seu lugar no mundo, de seu pertencimento geográfico. Por exemplo, por mais que hoje o mundo inteiro o replique, o mangá é um estilo que nasceu no Japão, assim, mesmo os profissionais de outros países que o adotam raramente guardam “a aura” de um mangá nascido naquele país: há sempre uma linha, um traço, um requadro que, aos instintos mais aguçados, denunciam de que aquele mangaká não é “japonês”.
Indo mais longe, os nativos americanos possuem uma arte rica que os diferencia enquanto povos, tribos, personas – elas reunidas, no entanto, trazem uma identidade que aproxima enquanto povo, distanciando-os, por exemplo, da produção europeia, e isso se dá (talvez) por suas realidades geográficas serem também mais próximas, mais alinhadas entre si.
A geografia da arte possui certo caráter instintivo. É algo que se entranha em nossa identidade de artistas além de qualquer análise ou estruturalização, nascendo na percepção que temos acerca de nossa origem, de nosso berço, e se esconde em nossos estudos, nas nossas habilidades, como uma fina “cola” que junta estilo, individualidade e técnica.
E você, artista, quantos dos ares de sua cidade, das areias de suas ruas, do cimento de suas casas se misturam às suas tintas, grafites ou pincéis?